Farto
de politiquices, havia decidido há já longo tempo, não me dar ao trabalho de
passar para o papel, neste caso para o papel virtual que é a Net, os meus mais
profundos pensamentos e desânimos que se me afloram à mente sobre os mais vis
acontecimentos da nossa sociedade. Porém chega sempre aquele momento que se não
desabafamos rebentamos e desta vez o calafrio da estupidez deste povinho
desencantado fez de mim brotar o ensejo de desabafar o que me vai na alma.
Já
perdi a conta aos anos em que se fala de austeridade e sempre com a perspectiva
de que “no ano que vem é que vai ser pior” mas tal como os demais portugueses
estou anestesiado e já com um elevado índice de entorpecimento que já nem as
mais e muito más notícias me fazem levantar os olhos ou virar a cabeça para ver
as notícias que são derramadas nas televisões que vociferam bestialidades para
dentro das nossas casas.
Hoje
é tema de conversa o Orçamento de Estado, que todos parecem saber de que se
trata e se discute com os mais elevados ares de douto conhecimento. Parece ser
consensual que vai ser muito mau para os portugueses e as greves sucedem-se e
parecem ser concordantes que com a sua actuação vão conseguir mudar alguma
coisa…
Não
sei se notaram que eu estava a juntar-me à manada e a balir em uníssono com os
desmandos dos pastores do rebanho. Mas voltando atrás à parte em que eu
mencionava os portugueses e às greves e à austeridade que os mesmos vão passar
no próximo ano apetece-me perguntar se os portugueses a que se referem os
sindicatos são todos os portugueses ou só os portugueses que têm necessidade de
fazer greve por causa da austeridade? Eu explico:
Como
aquilo que nós os (outros!) portugueses presenciamos nas televisões trata-se de
fazer evitar o aumento da austeridade dos funcionários públicos porque receiam,
e bem, perder poder económico ou seja, como dizem os políticos, massa salarial.
Como se trata realmente de meter a mão na massa, pasta, papel ou o que lhe
queiram chamar dos funcionários públicos, os portugueses (eles!) têm que se
indignar fazendo greves selvagens que a eles nada apoquenta mas que aos outros
portugueses (nós!) fez uma tremenda diferença porque não podemos faltar ao
trabalho e porque o parco ou mesmo, miserável ordenado que auferimos não se
compadece do desconto de um dia.
Sem
parecer xenófobo, esquerdista ou sequer pretender um apartheid social creio ser relevante perguntar aos portugueses
(eles, os públicos!) quantos dos mais de 800.000 desempregados e dos cerca de
200.000 emigrantes incluem funcionários públicos. Quantos funcionários públicos
estão em risco de perder o emprego nos próximos meses? Quantos funcionários
públicos receberam de volta um dos subsídios que lhes havia sido retirado
comparando com os (outros!) portugueses que trabalham no privado e lhes foi
retirado também o mesmo subsídio e nunca lhes chegou a ser devolvido? Quantos
funcionários públicos tiveram redução de até 10% dos salários em 2012 em comparação
com os do privado que chegaram a ter reduções até cerca de 30%?
Feitas
as contas Portugal tem dois tipos de cidadãos, os portugueses por um lado (608,7
mil funcionários públicos) e por outro lado somos nós que não temos voz nem
representação e no entanto somos cerca de 5,5 milhões de trabalhadores no
activo.
Desta
forma 11% da população activa em Portugal tem o poder e a capacidade de
consumir uma boa fatia do produto interno bruto e paralisar o país porque não
querem trabalhar o mesmo número de horas dos demais portugueses (nós!) mais uma séria de choradinhos.
Em
forma de desabafo e para amenizar a fúria de todos quantos conseguiram chegar
ao epílogo deste longo verberar concluo dizendo que a culpa não é dos
funcionários públicos que ao longo de décadas acumularam postos e se aposentaram
com chorudas reformas mas sim dos outros (nós!) que não tiveram a sorte de
serem bafejados ou apadrinhados por um emprego que nunca foi um trabalho de
produção de riqueza. Alea jacta est.
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